“Quem és tu que a ilusão é tanta que és incapaz de definir o
teu eu. Sabeis vós que sois uns corpos imprudentes no abismo de dia para dia
por ambicionar coisas materiais”.
Livro O UNIVERSO EM DESENCANTO
O espetáculo propõe
a investigação físico-intelecto-energético da idéia ou experiência do “EU” tão
somente. O “EU” sem identificação com o que faz, pensa ou sente é um fenômeno
da natureza que transita livre e leve pelo mundo. Em nossa sociedade regida
pela fixação no capital, e portanto, em tudo o que é construído por ele, tem
produzido em seu seio cada vez mais seres transtornados pela falsa idéia do
‘EU’, este que não passa de uma máquina de consumo alienada.
SOBRE SONHOS E PASSAGENS... traz em seu
tema a discussão sobre a real identidade humana. Um assunto bastante profundo e
um tanto polêmico já que quase sempre essa problemática é resolvida com os
rótulos e títulos que passamos a receber desde que nascemos. A Personagem, que
não mais tem nome, pois em sua busca por si mesma, desapegou de toda e qualquer
máscara que pudesse identificá-la na superfície, está prestes a descobrir-se
alguém além da cultura, das relações e das posses. O caminho para o encontro
com o EU tão somente, no entanto, é cheio de armadilhas e distrações provocadas
pela mente que opera em identificação profunda com os mecanismos externos criados
pela própria mente para tornar-se a dona do ser (corpo, sentimentos, ações) e
conduzir o homem pelos caminhos de satisfação absolutamente corpórea sensorial.
O conflito do espetáculo se dá em um
contexto psicológico em que A Personagem expõe para o público sua luta para
reaver os domínios de sua casa (corpo, sentimentos, ações) e encontrar a si
mesma e conseqüentemente a real felicidade.
O tema do espetáculo é universal e atende
às demandas de nossa sociedade, pois muitos de nós estamos sofrendo de uma
profunda insatisfação com a existência e não sabemos que as reais causas não
estão exatamente nas ações e relações que desempenhamos no dia–a–dia, mas sim,
na total ignorância de quem somos nós. Assim como Nelson Rodrigues escreveu
sobre a sociedade em que viveu e provocou reflexões extremas, SOBRE SONHOS E
PASSAGENS... pretende escarafunchar alguns valores, medos e práticas sociais
para remexer com costumes arraigados e mantidos mesmo sendo profundamente
estúpidos.
“Quando
eu canto para dançares, sei bem porque há música nas ramagens, porque as
sinfonias das ondas alcançam o coração da terra... quando eu canto para
dançares”. TAGORE
Para que o assunto do espetáculo atinja
os níveis de compreensão lógico racional (lado esquerdo do cérebro) e percepção
intuitiva (lado direito do cérebro) foi desenvolvido no roteiro a junção das
linguagens do teatro e da dança. A palavra e o gesto banhados em músicas de
vibração ultra sensorial vão levar os observadores a mergulhar em uma viagem
onde a razão do senso comum dá lugar a vivência através da Não Mente (não
julgamento). Assim a questão existencial do EU tão somente poderá ser
experimentada, nem que seja em um pequeno cálice.
Para alcançar a expressão corpórea
autentica e expressiva o processo escolhido foi o da dança pessoal. Conceito
elaborado por Jerzy Grotowski que aliado aos textos baseados nas obras de Osho,
J. Kristinamurti, conceitos de Física Quântica e de poemas de Tagore e
Feranando Pessoa sob o pseudônimo de Alberto Caeiro pretendem ampliar a consciência
do observador para que ele (re)conheça as questões pessoais, sociais e
existenciais.
COMO UMA CRIANÇA antes de a
ensinarem a ser grande,
Fui verdadeiro e leal ao que vi e
ouvi.
Alberto
Caeiro
SINOPSE: A Personagem está
em profunda busca pela sua real identidade. Na trajetória confronta-se com
rótulos e títulos recebidos e carregados por ela ao longo de sua vida, no
entanto todos eles não mais fazem sentido. Assim, mergulhada no vácuo de sua
existência, ela vivencia e elabora a experiência perturbadora e libertadora do
EU SOU.